Vila Santa Isabel, seu Vigário e seus primeiros dez anos de vida paroquial
I – Histórico
As grandes obras nascem do nada. Em 1943, em obediência a uma promessa feita por sua mãe, Da. Isabel, a Sra. Da. Marieta Teixeira de Carvalho fez construir uma capelinha, consagrada a Santa Isabel, nas terras que receberá como herança, por morte de seus progenitores. Mais tarde, sempre guiada pela bondade de seu coração. Da. Marieta decidiu lotear aquelas terras e vendê-las, por preços acessíveis, aos operários das fabricas adjacentes. Nasceu assim, um novo bairro na periferia da cidade de São Paulo. Um bairro pobre, humilde, mas que iria agasalhar, muito em breve, uma população piedosa e obreira.
Decreto da Cúria Metropolitana – Criando a Paróquia Santa Isabel
A 07 de Setembro de 1950 , data magna de nossa Pátria e Festa de Nossa Senhora Aparecida, foi criada, por decreto de S. Emcia. Revma. D. Carlos Carmelo de Vasconcellos Motta, a Paróquia de Vila Santa Isabel Rainha de Portugal, localizada entre Vila Formosa e Vila Carrão. Dez dias depois, a 17 de setembro, tomava posse o primeiro Vigário, Revmo. Pe. Cristovam Porfírio de Almeida Machado.
Condições econômicas e sociais da paróquia quando da sua fundação
Como todos os bairros nascentes, na periferia das grandes cidades, Vila Santa Isabel apresentava-se desprovida de todos os confortos mais elementares para um povo civilizado. Suas ruas sem calçamento, sem luz, sem água encanada, sem esgotos. A população, sem conduções diretas para a metrópole, sem escolas, sem linhas telefônicas, sem policiamento e sem correios, apresentava um quadro triste, desencorajando aqueles que poderiam auxiliar tão pobre, mas tão humana gente.
Assim era a Vila Santa Isabel quando da chegada de seu primeiro Vigário, o Revmo. Pe. Cristovam, que depois de um gigantesco esforço e acirrada luta, não resistiu aos problemas daquela nascente população, deixando a paróquia, por motivos de saúde, oito meses depois de sua posse.
A 28 de outubro de 1951 por desígnios da Providência chegava à Vila Santa Isabel, vindo do bairro do Limão, nesta Capital, o Pe. Ciro Turino. Ciente de sua nobre missão, conhecedor da extrema miséria em que se achara até mesmo o Vigário anterior, esqueceu-se de suas próprias precisões e decidiu acudir aos pobres e as crianças da Paróquia.
Fé e Dinamismo
Dotado de imensa fibra e senso de organização de trabalho, além de grande resistência física, quis ouvir, ver e sentir a sua gente antes de julgar e agir. Foi, nesse período de observação, juntando elementos necessários: coragem indispensável, perfeita organização, entrosamento com paroquianos e amigos afim de iniciar a obra arrojada que realizou.
A obra do novo Vigário
Sequioso, inicialmente, de socorrer a mísera população, o Pe. Ciro esqueceu de si próprio, e antes mesmo de pensar em construir a Igreja, pensou num modo real e eficiente de ajudar alimentar, vestir e instruir as famílias pobres do seu rebanho.
Obra de assistência social “Rainha Santa”
Criada com a finalidade de assistir famílias pobres, nasceu de uma equipe de colaboradores que se prontificaram a auxiliar os pobres seguindo orientação do Sr. Vigário. Esse cuidado, esse desprendimento do Pe. Ciro, alimentando e vestindo os pobres quando ele mesmo passava amargo aperto, atraíram, por certo as bênçãos e os penhores de Deus e foram auspício de uma eclosão de graças sobre o rebanho e sobre o pastor.
E as obras se sucederam: a 2 de dezembro de 1951, estando a Capela desprovida até mesmo de Campanário, o Pe. Ciro Turino ergueu uma torre provisória, em madeira, com serviço de alto falante e um sino. Saberia o povo de Vila Isabel, que aquela modesta torre de madeira, dez anos depois estaria transformada nesta verdadeira obra de arte que é hoje? Deus sabia, Deus acarinhou, sem dúvida, o sonho de seu Ministro. Deu-lhe forças, coragem, animo inquebrantável espirito de sacrifício e Fé, muita Fé.
A 8 de dezembro, com o intuito de atrair jovens e crianças dando-lhes distração sadia, fez inaugurar o Cinema Paroquial.
Dois meses após a sua posse, o Vigário organizava algo comovente para o povo de Vila Santa Isabel: Natal das crianças pobres. Verdadeira surpresa para as famílias indigentes que receberam, das mãos das Filhas de Maria, mantimentos, roupinhas e brinquedos para suas crianças. Esta era a primeira atividade da Obra de Assistência Social – “Rainha Santa”.
II – Divulgação da Devoção a Santa Isabel
A Santa Padroeira, modelo de esposa fiel, mãe extremosa e Rainha inteiramente consagrada ao bem do seu povo. – Apresentação de Santa Isabel como modelo cristão aos seus paroquianos e devotos.
O rádio e imprensa a serviço da Fé
DEUS OUVIU A SUA PRECE – Foi durante a festa da Imaculada Conceição, a 8 de dezembro de 1951, diante do altar da Virgem, resplandecente de lâmpadas votivas, numa nuvem de luzes azuis que o Pe. Ciro Turino fez, a Nossa Senhora, uma prece, um pedido: que abençoasse a devoção a S. Isabel; que o acompanhasse em seus primeiros passos na divulgação da vida maravilhosa daquela Santa Rainha; que o inspirasse e dirigisse na grande empresa a que se propunha. Saberia ele, então, de que forma total receberia Nossa Mãe Santíssima o seu pedido? Deus o soube. Deus ouviu a sua súplica e, pelas mãos maternais de nossa Medianeira, abençoou carinhosamente o seu trabalho.
Conseguiu logo a colaboração da Rádio Difusora, na pessoa de Manoel Vitor e as primeiras referências surgiram para milhares de ouvintes. Algum tempo depois, a RADIO S. PAULO inaugurava o Programa Religioso de Santa Isabel, graças ao precioso auxilio de Alfredo Erasmo de Carvalho, Roberto Carvalho dos Santos, e durante nove anos, diariamente, às 5.30 horas da manhã, pelas ondas da Rádio São Paulo, esse programa levou aos lares, sob a responsabilidade e direção do Pe. Turino e pela voz agradável de Paulo Cesar, todo um relicário de ensinamentos, orientações e principalmente o conhecimento da vida belíssima de Santa Isabel, seus prodígios, suas virtudes, sua glória no Céu e seu exemplo na terra.
PROPAGANDA ESCRITA – Além da divulgação oral da salutar devoção a Santa Isabel, preocupou-se o Vigário, divinamente inspirado, com a propagação escrita. Surgiram então as primeiras biografias de Santa Isabel. Foram preparadas e postas à aprovação eclesiástica, a Novena e Ladainha e consequentemente à difusão pelo Rádio, foi organizando o fichário dos devotos, que contava (na época), com mais de 30.000 inscritos.
Alcance da Campanha de Divulgação
RÁDIO – Um verdadeiro milagre revelou-se com o Programa Religioso, na Rádio S. Paulo: um verdadeiro milagre de penetração nas massas, de inteira conquista dos ouvintes. Irradiado em hora inconveniente, quase fora do horário comum de programação, foi para a própria emissora um fato sensacional e surpreendente, quando pela primeira vez, em 29 anos de existência, ouvintes das mais longínquas plagas deste Continente testemunhavam, por meio de viva correspondência a satisfação e os cumprimentos pelo interessante e salutar programa. A própria emissora ignorava que poderia ser ouvida em Salsipuedes, em Córdoba, na Argentina: em Montevidéu, no Uruguai, e até mesmo na cidade de Puerto Deljado, na Colômbia.
CORRESPONDÊNCIA – Daí para diante foi um nunca mais acabar de cartas que chegavam dos mais diversos pontos deste imenso Brasil e dos países vizinhos. Cartas que são verdadeiros relicários de súplicas, lágrimas penas e dores; cartas que são reais sinfonias de júbilo, de gratidão, de felicidade e de alegria.
ORIGINALIDADE DE ALGUMAS CAMPANHAS NA DIVULGAÇÃO DA NOVA DEVOÇÃO – Está testemunhado o entusiasmo dos devotos pelo Programa Religioso não só pela magnifica correspondência que mais se avoluma dia a dia, como também pela aceitação entusiasmada de todas as campanhas em prol da Construção, como Rifas, Listas, Lâmpadas Votivas, e as originais campanhas do Tijolinho Simbólico, da Corbelha de Rosas etc., tão agradadas dos devotos e ouvintes.
UMA PEQUENA IDEIA PARA UM GRANDE ALCANCE AS ORIGINAIS FOLHINHAS DE SANTA ISABEL – Algo existe ainda digno de menção especial: a iniciativa toda original da criação da linda e artística Folhinha de Santa Isabel. Verdadeiras jóias que ano a ano se apresentavam com novas cores e novas características e que são emissárias de graças e de paz, levando a todos os lares cristãos aquele toque suave de arte e de piedade, espalhando o perfume da devoção àquela que é a Mensageira da Paz. Não há dúvida de que a Folhinha de Santa Isabel ocupou milhares de casas.
OS PEREGRINOS DE SANTA ISABEL – ROMEIROS DE TODO O BRASIL – Decorrente também da perfeita divulgação escrita e falada da devoção a Santa Isabel, organiza-se a Primeira Romaria no Santuário de Santa Isabel, a 17 de fevereiro de 1952. Foi um verdadeiro sucesso. Um acontecimento que entusiasmou ainda mais o já dinâmico Vigário.
E até hoje (1961), não só no segundo domingo de cada mês mas sempre, as romarias se sucedem em Vila Santa Isabel. São peregrinos que depositam aos pés de sua Padroeira, confiantes e contritos, um hino de louvor e de gratidão. O místico interior da pequenina Igreja de Santa Isabel está sempre em festa com o incessante chegar dos peregrinos. A fadiga de uma longa viagem, o sacrifício oferecido, as noites mal dormidas, o desconforto, a solidão de terras desconhecidas, tudo é esquecido, tudo é oferecido e festivamente cedido à Consoladora de todas as aflições. E ali, junto à imagem de Santa Isabel, as romarias se transformam num só coração, numa só voz, revelando amor, confiança e devoção. O comovente encontro da Padroeira e o Peregrino em tão íntima união é bem uma prova de que a devoção a Santa Isabel é um verdadeiro farol de luzes, de calor e de heroísmos.
Fonte: “ECO DE SANTA ISABEL” – Setembro, Outubro de 1961, nº 128